
Uma calma, aparentemente clerical, sopra novamente por entre os campos Elísios. Oriunda talvez dos suados braços de Quasimodo a agitar os badalos dos sinos do campanário da catedral de Notre Damme ou provavelmente das centenas de esplanadas que Paris veste de manhã à noite e onde escritores, boémios e músicos nascem, ou nasceram para o mundo. Desta feita, a Gália serve-nos com esta aragem uns mancebos que dão pelo nome de Koko Von Napoon.
Esta brisa deixa um rasto indelével de pós-punk embutido em new-wave. Como um templário, este vento ganha aforismos de pop-rock que aos poucos ajoelha sua armadura no solo gaulês e, lembra o outrora sagrado solo, rendido ao catolicismo que agora esquece a extrema unção aplicada por Urdezo ao herói de BD Asterix e, ignorando esse tiro no pé, prepara-se para exportar uma nova e sublime mensagem para o mundo.
Os Koko Von Napon têm na formação três embriagadas damas das camélias e um Alexandre Dumas filho, Toupie, Renarde, Kokoboy e Kiddo de baptismo. Estes novos Gavroche da pop francesa compactam agronomicamente as raízes do neo-punk a um electro-soft-rock, numa boda em jeito de luxúria. Ressuscitando mesmo a loucura perdida de Nina Hagen numa noite de núpcias, onde velha punk star é desflorada por um novo mundo, que gira eternamente em volta do velho.
Esta Nouvelle Vague labiríntica, poderá vir da perdida claustrofobia Manchesteriana, onde a gélida e defunta indurtria sonora deixou raízes para a nova irredutível pop gaulesa, ou até mesmo do frenético beat latino dissimuladamente usado no indie-rock norte-americano dos anos 80. Na audição do seu homónimo e primeiro EP, tudo isto se junta a um sentido musical subliminar como em «Agence Blady Trailer», música a roçar o triste glamour dos Human League pulverizando uma batida em jeito de escárnio dos Spectrum ou ainda, parindo um David Byrne efeminado, a amamentar uns Talking Heads de saias e de corpetes electro trajados.
Bem trajado aparece também «Rocky», uma elegia vocal à Santo Gold, numas passadas largas de Lenne Lovich e que se repetem em «Baden Baden» mas acentuando também a mecânica soul do “Power Corruption & Lies” dos New Order, banda que volta a influenciar os Koko Von Napoon com o seu primogénito “Movement” no tema «JonBon». Uns sintetizadores beatos abrem o single «Polly» e marcam o tema em definitivo numa clara alusão ao fantástico universo dos Suicide, nadando um pouco no stereofonismo dos Ladytron e relembrando o futuro previsto por Ridley Scott em “Blade Runner”, onde Vangelis tropeçou numa inspirada obra que lhe valeu pela vida.
Esta banda acaba por ser uma espécie de rebento fresco, à deriva num ramo da árvore genealógica da música pop e regurgitada de uma neblina aferida na gélida ilha britânica. Até o tempo parece congelar na aparente estagnação de que vive a nova pop, mas a verdade é que deste entupimento têm surgido verdadeiras obras-primas. No primeiro trabalho esta banda promete ser uma dessas novas coqueluches que se ajeitaram ao novo milénio, com a roupa que os pais vestiram.
in rua de baixo