quarta-feira, 25 de novembro de 2009

KINGS OF COVINIENCE - CRITICA CONCERTO


Noruegueses que comem Muamba e cantam em português

Um pelotão de garrafas de sumo, emanava peneiras por uma vitrina polida por mãe extremosa, desviando o olhar da amálgama de papel amarrotado e sinistrado em cima de uma mesa. O tempo reclamava por mim e descosi os presuntos da cadeira que, como notas de música fora de tom, rapidamente cruzaram a fogueira de vaidades que enfaixava a porta do Coliseu de Lisboa, para me alinhar num camarote onde as vistas se alinhavam em conformidade com as luzes da sala.


Por Shampo Decapante | info@mundouniversitario.pt

Um casal solicitava o sossego que a minha caneta não vazou, e bem confortável vislumbrei os últimos suspiros de Javiera Mena, de quem nada conhecia. Uma tranquilidade de solstício desabava em Castelhano, confundindo os pirilampos apontados às coxias onde os camareiros largavam o público, faminto dos acordes dos Kings of Convinience e, que também ainda ouviram as insonsas melodias caídas de uma voz sofrível que arrecadou unas palmas para celebrarem o fim.
As luzes deram então vida à sala e testemunharam uma casa já bem composta para receber o duo norueguês.
Pouco iluminado sobre o trabalho dos Kings of Covinence, um carrapato fazia-me comichão e levava-me a enfrentar esta crónica com uma leve sarna que levemente me incomodava o pensamento, mas lá avancei. Com a sala já repleta e com o camarote mais composto, vesti-me para a contenda, a batalha entre a caneta e a solicitude norueguesa ia começar.
A afinada máquina acústica requisitava num altifalante que a sua posteridade só fosse guardada depois de quarenta minutos de espectáculo mas, o único espectáculo que se assistiu neste sentido foi a incómoda presença a todo o tempo de flashes e incómodos telemóveis a filmar a banda. A simpática personalidade do carismático Erlend Øye, quase que saiu do sério perante a persistência parola nestas novas tecnologias por parte de algumas pessoas na assistência.
«You are two many people. We are only two people...» – rematou Eirik Glambek num tom irónico, logo no primeiro de muitos contactos com o público. E a banda avançou para uma plácida primeira parte, na qual enfrentaram o coliseu sozinhos armados apenas com as suas guitarras clássicas. A banda relembrou temas como “Power of Not Knowing”, “Homesick” num sincronismo romântico que Portugal bem conhece e, reconhecimento agradecido pela banda a lembrar que era a quarta vez que actuavam em Lisboa, contra apenas três feitas em Oslo, capital da Noruega e país natal do duo, e uma em Madrid. Também foi nesta primeira parte que o duo começou a lançar temas do seu mais recente trabalho, “Declaration Of Dependence”, do qual se destacou o tema “Rule The World” e que foi tocado já com o violinista italiano, David, e o contrabaixista alemão, Tobias.
E foi neste tema que aconteceu o momento mais caloroso da noite. Erlend Øye, ainda não refeito da Muamba que a banda havia ceado ao almoço, armou uma boa caldeirada ali mesmo em palco, ao convidar o público a juntar-se ao duo que se havia tornado num quarteto para com ele dançarem em palco. Este momento muito lembrou os carismáticos concertos dos The Smiths, onde o público deambulava por entre o Morrissey e o Johnny Marr numa altura em que ainda viviam felizes.

O concerto acabou sobre uma forte ovação, que foi uma constante no decorrer do espectáculo, mas para o encore, o duo tinha guardado momentos que se tornariam únicos e históricos. Subiu ao palco sozinho Eirik Glambek Bøe para numa voz ingénua a cantar em português enrolado o Corcovado de Tom Jobim, ao qual se juntou no fim Erlend Øye para o acompanhar com um muito aplaudido trompete vocal. Seguiu-se o inevitável “Cayman Islands”, e a presença em palco terminou com uma homenagem ao Henry Mancini com o"Pink Panther Theme" e a Bob barley com o “Get up, Stand Up”.
Finda a actuação, a noite semi-fria de Lisboa esperava pelo público, que havia assistido a mais um grande momento deste simpático duo norueguês, que continua a agradar por terras lusitanas.

IN MUNDO UNIVERSITARIO

sábado, 7 de novembro de 2009

Music Go Music - O novo sonho americano.


Os Music Go Music, banda de L.A. Califórnia, acabaram de editar o seu primeiro trabalho “Expressions” nos Estados Unidos da América. Reunidos em volta do conceito de unidade musical e irmandade enquanto banda, este trio segura-se ao presente com tópicos bem antigos. O LP traz nos temas muitos músicos convidados e velhos fantasmas da Pop, do Rock, do Electro e do Disco-Sound a lembrar as idas épocas das sonoridades analógicas.

O sonho americano sempre se materializou mais facilmente na costa leste, nas quentes terras costeiras do sul da Califórnia onde as praias disfarçam a falta de talento a muitos canastrões e, onde nove letras acesas num monte servem de estrela guia a reis e servos da gleba.

L.A. sempre foi a cidade por excelência dos grandes actores de cinema, das grandes estrelas Rock & Roll, dos escritores novelescos de TV e até de proxenetas culturais, mas agora com os Music Go Music talvez se tenha aberto um nicho no deserto para as vedetas POP, pois é isso que Gala Bell, Kamer Maza e TORG são: uma banda com influências sarcásticas do frio nórdico europeu materializado nos anos 70 pelos Abba.

A música dos Music Go Music, dificilmente se encaixaria na banda sonora de Beverly Hills 90210 e os seus membros estão longe de se rever na sátira rockeira de “Californication” dos Red Hot Chili Peppers.
A banda apresentam-nos mesmo uma Califórnia rendida aos caprichos dos encantos da simplicidade da música como é exemplo o tema “Just Me” onde se vêm no vídeo os três membros do grupo ao lado dos quatro músicos convidados, Abi Gold, Lilith Fayre, A.S., & Haavik, trajados de um hippieismo pós-moderno a calcar nas colunas as bases mais simples do bê-á-bá da pop.

E realizando mesmo o impossível flirt de Kate Bush com os Erasure, chegamos a “Light Of Love”, primeiro single de “Expressions”, e que é o tema mais Abba, na voz, no piano, na guitarra e no ritmo e, música onde a banda se assume filha da velha matrona banda sueca.

No “Warm In The Shadows”, tema a citar o velho mundo de Donna Summer entre um Rock macio e um disco sound alternativo, a banda faz uma incursão de bom gosto às tabelas de dança dos anos 70 e culmina a dança com um refrão saudosista e delicioso.

Já o tema “Reach Out”respira o psicadelismo “Jesus Christ Superstar” rezando ao pedestal do Rock progressivo caído da banda sonora dos “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman. Fulminando mesmo as tripes ancestrais que vivem nos anais dos neurónios queimados de nossos antepassados, para dar vida a rituais de convívio mais em voga.

Depois temos Um Gospel electrico que serve de portal a “I Walk Alone” para uma odisseia pedante pelos caminhos palmilhados pelos The Carpenters ou The Supremes, com a curiosidade de neste tema, a banda parecer ter a voz de Jimmy Summerville enclausurada num canto remoto dos altifalantes.
Estas são as profecias que se podem escutar no Myspace da banda onde também se podem ver dois vídeos, já que o LP editado nos Estados Unidos só deverá chegar ao país das cinco quinas lá para o final do ano na melhor das hipóteses.

“Expressions” é composto por nove temas, todos eles a evocar do alto do púlpito o memorial do anti-sedentarismo de uma corrente que não pertence a ninguém. Pois a música POP é pária. Pode chegar da Austrália na base do planeta, da cabeça Manchester ou da cintura Califórnia onde os emergentes filhos de uma geração de difusos marginais, que saíram do nomadismo Hippie no famoso concerto dos Depeche Mode no Hollywood Bowl no longínquo anos de 1986, surgem agora para se imporem como esguios gatos da POP reciclada e transformada à velha máxima Peace & Love.

in rua de baixo

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Arctic Monkeys – Humbug


Um pouco arredados da irreverência juvenil com que se estrearam no ano de 2008, os Arctic Monkeys surgem agora como uns rapazolas mais adultos no terceiro LP de originais, ‘Humbug’.
A banda tem-se afirmado como uma das protagonistas do melhor pop rock da actualidade e este novo disco continua o caminho de um grupo, que em registos discográficos, concertos e também na meteórica ascensão ao sucesso que conseguiram, vai fazendo história na música britânica.

In mundo universitario

A.O.K. - Angry Odd Kids


Os A.O.K., Angry Odd Kids, lançaram a 6 de 0utubro o seu primeiro e homónimo LP onde cantam em português sobre um Hard Rock norte-americano, já quase extinto no país de origem, e que sobreviveu nas épocas de 80 e 90 em bandas como os Ugly Kid Joe e os Green Day.
Fora de tempo e fora do lugar, esta ideia até pode ser nova por terras lusas, mas a verdade é que o projecto, trazido de Miami (Flórida) por Carlos Teixeira dos Fonzie, usa uma fórmula já demasiado ouvida por este mundo fora e consequentemente nas tabelas nacionais.

in mundo universitario

OIOAI – Pela Primeira Vez


Os OIOAI são mais uma das muitas bandas influenciadas pelos pais do Rock Português, Xutos & Pontapés, e contam também com algumas influências dissimuladas de Sérgio Godinho, Jorge Palma entre outros.
O LP ‘Pela Primeira vez’ é o segundo da banda e vai numa corrente musical já muito gasta e explorada que nada de novo traz à música portuguesa. As melodias demasiado óbvias fazem-se acompanhar por alguma literatura de apeadeiro onde pombas e espingardas acenam a infantados que aspiram por melhores dias.

IN MUNDO UNIVERSITARIO

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

BATIDA - Danças Modernas Em Ritmos Antigos


Dos arquivos da música tradicional nacional angolana nasce, entre Luanda e Lisboa, um projecto que tira das ruas da capital africana uma sonoridade marginal. Esse movimento musical chama-se batida e dá o nome ao projecto que nasceu nas colunas da Antena 3, no programa ‘Fazuma’ pela mãos de Pedro Coquenão (DJ Mpula), Bruno Lobato (Beat Laden) e Luaty Beirão (Ikonoklasta).

Por Shampo Decapante | info@mundouniversitario.pt

A aventura na rádio começou a tomar contornos de projecto e o salto até ao disco, que mistura velhos ritmos africanos como o Semba e o Merengue a ritmos de dança contemporâneos como o Kuduro, aconteceu naturalmente. Os alicerces já tinham sido montados em África em jeito de compilações distribuídas pelas ruas de Luanda e tudo o resto aconteceu num ensaio para uma emissão de rádio ao vivo como conta Pedro Coquenão.
«Nasceu de um sistema sonoro que íamos ter na Casa da Música. A Rádio Fazuma às vezes actua num formato de emissão de rádio ao vivo e, como eu faço o programa num software que também dá para fazer música, naturalmente numa das vezes que estava a fazer um programa comecei a misturar uma batida que já existia, comecei a transformar uma música antiga e a incorporá-la num beat mais electrónico e num desses ensaios do sistema sonoro, meti esse beat a tocar e toda a gente reagiu muito bem.»

Raízes africanas
A viagem da música segue sempre nas pisadas do êxodo humano. A marca humana pode desaparecer indelevelmente, mas a da música poderá ser eterna. E, por vezes, basta uma memória para trazer de volta aquele som, neste caso pelo trabalho dos filhos de uma geração que ouvia os velhos ritmos angolanos, e que agora vive em Lisboa ou ainda em Luanda.
«A maior parte dos elementos do projecto cresceram a ouvir esta música. Era a música que os nossos pais ouviam e é a música que esteve sempre lá de fundo. Não somos propriamente conhecedores, mas somos pessoas que cresceram com ela.»

Primeira paragem: Brasil
Os Batida podem ser músicos, mas também podem ser arqueólogos a decifrar as descobertas ancestrais a montante e a moldá-las aos tempos modernos e aos seus descendentes directos como aconteceu no Brasil. Foi lá que os Batida se estrearam em concertos ao vivo.
«O concerto do Brasil foi muito fácil, quando é fácil é bom sinal. Nós entrámos e já estava toda a gente doida desde o primeiro instante. O concerto acabou e ainda estava tudo doido a dançar. Houve uma reacção instintiva ao beats. O Brasil tem relações muito fortes com África, relações históricas. Muitas das pessoas que lá vivem são descendentes directas de africanos, têm um diálogo grande ali com o outro lado do Oceano onde está Angola, então parece que as pessoas, mesmo sem pensarem nisso, reagem aos ritmos como se já os conhecessem há muito tempo, e têm uma curiosidade muito grande em relação a tudo o que venha de África e de Angola. Então tivemos uma recepção muito fixe por parte do público.»
Os Batida tocaram ainda na Holanda e na Bélgica onde também tiveram grande sucesso, apesar das diferenças culturais. E em Portugal onde acabaram de lançar o disco que promete meter muita gente a dançar nos tempos vindouros

IN MUNDO UNIVERSITARIO