terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O PSICOPATA DA MOUSSE DE MANGA

As pedras da calçada alinham-me o passo que me transporta a gula à rotina diária do jantar. Para trás ficam meia dúzia de borbulhantes imperiais e o chato frio do fim de Novembro que nos impõe este flagelo para pagarmos os pecados de um verão que pensamos eterno. Na companhia para a janta tenho duas pessoas que acho imprescindíveis na mesa...
...Na mesa sentados e longe do frio os patés e uma salada de polvo acalmam a impaciência que a gula não disfarça. Pela sala entre mesas e pratos fumegantes baila um pequeno e entroncado serviçal em trajes de pinguim carregando por baixo de umas fartas sobrancelhas o que eu pensei ser um olhar bondoso.
Num ecrã suspenso a um canto os lagartos marcam mais um golo na encenação do sofrível futebol nacional disfarçando a solidão de um solitário senhor ancorado duas mesas à nossa frente quando finalmente a nossa mesa é presenteada com o primeiro prato, carapaus assados no carvão ou não estivéssemos nós num típico restaurante da avenida Luísa todi em Setúbal. O salmão estorricado seguiu os passos dos carapaus na valsa da refeição sendo o vosso cicerone o ultimo a ser aviado no pasto. Costeletas de borrego grelhadas, a refeição de Hannibal Lecter faz parte das minhas escolhas quando também elaboro planos maquiavélicos. Mas esta personagem eu não estou a inventar, eu não a fabriquei quando abruptamente me pousou o borrego na mesa e de pronto me perguntou.
-está bom?
- Eu ainda não havia degustado a refeição... Mas havia constatado uma avassaladora mudança no serviçal, num passo de um tango sadino o sacana do serviçal enveredou por outras vestes e tal como Jackal and Hide apresentou-se na mesa como O PSICOPATA DA MOUSSE DE MANGA... A ligeira refeição de aniversário do Pedrocas transformou-se repentinamente num aperto. Era como termos o Kevin Spacey a servir-nos a cabeça da pessoa amada dentro de uma caixa como o experimentou um desolado Brad Pitt no seven. O gélido olhar tocou-nos fundo nos receios que nunca nos largaram na infância.
O velho mau ressuscitou num invernoso sábado na hora do jantar.
O velho mau de ar carrancudo e longas barbas mal amanhadas voltou à vida num restaurante com a especialidade setubalense do choco frito, essa delícia gastronómica que aviamos aos incautos lisboetas por na verdade não conhecerem as verdadeiras relíquias gastronómicas dos restaurantes sadinos.
O velho mau abençoou o trigésimo terceiro aniversário do Pedrocas, também ele já barbudo e a quem dedico este texto.
Parabéns amigo...

2 comentários:

Anónimo disse...

O velho mau veio oportunamente visitar-nos para lembrar que passo a passo, ano após ano, vamo-nos aproximando e encaixando cada vez melhor nos sombrios pesadelos de infância. Velhos maus vamos ser todos nós em breve lembra o espírito do Natal futuro. A barba já me cresce descontroladamente, já não há nada a fazer.

Anónimo disse...

Durante uma hora e meia, este senhor assaltou-nos o descanso da refeição quente a cada 2 quartos de hora para perguntar se estava tudo bem, com um ar suspeito, como se tivesse medo que revelassemos o segredo dele. E esgueirava-se à beira do Pedro, e olhava-nos aos dois com um olhar intrigado. Até que por fim...a mousse de manga. E aí revelou-se, deixando-nos o seu presente e partindo depois da refeição, para dar as boas vindas a mais uns quantos pobres coitados.