quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A LASTIMÁVEL LEVEZA DO SER


As noites de Outono ainda queimam um Outubro nefasto que nos pintou uma decadência monetária...
a que antecedeu o frio na esperança da nossa boa ignorância...
Da nossa distracção ao encaminha-mos um olhar frustrado...
o olhar que pavimenta o chão aonde procuramos atalhos...
para que nos mostre uma melhor cama para nos enroscarmos...
e que não nos mostre para dormir um leite que albergue uma almofada decapitante...
não leve o que sonhamos e o que podíamos ser...
O que não encontramos nas prega do lençol...
o que evitas com a pessoa que já não atura o teu feitio...
procuras algo que justifique o facto de aferires a tua vida ao que está certo...
ou ao que está errado...
procuras um peso positivo e um negativo...
E levas a vida na colher de um guisado do milan kundera...
mas, a ultima vez que estiveste com a tua personalidade deste-lhe o golpe de misericórdia com um piassaba...
E enfias-te o teu cadáver ainda palpitante numa mortalha que te conserva a utilidade de te manter ainda... bolas... ainda...
na educação programada para aprenderes a viver num rebanho...
E achas-te um falhado quando esse rebanho não tem lugar para o teu pasto e ai...
voltas ao milan kundera...
Sou útil, não sou útil...
Dúvidas da sociedade que te programou mas só fora dela te rebenta a personalidade...
E sabes...
A sociedade é um sítio aonde as pessoas vivem em conjunto...
Aonde caminham ao mesmo ritmo...
aonde te acertam o diafragma para respirares com o próximo...
a atrocidade que é este espectáculo sincronizado..

1 comentário:

.margarida. disse...

As tuas palavras fizeram-me lembrar estas:

"Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte
violar-nos
tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas
portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar."

Welcome to Elsinore de Mário Cesariny