segunda-feira, 1 de junho de 2009

Músicos e Amantes - DISCO. Os Plástica lançam ‘Lovers’, o mais recente álbum da band & entrevista uncut



«Creio que o nosso melhor disco será sempre o próximo», foi o ponto de partida para uma conversa que o MU levou a cabo com os Plástica. A banda que disparou para os escaparates um novo LP, ‘Lovers’, e que será seguramente um dos melhores registos do mercado nacional para o ano de 2009. Falámos com eles sobre o novo trabalho, sobre a concepção do disco e sobre o actual estado da música em Portugal.

Miguel Fonseca, Pedro Galhoz, Luís Custódio e Rui Berton formam os Plástica. A banda está a promover o seu mais recente trabalho, ‘Lovers’. Um LP que confere à banda uma maturidade que há muito se adivinhava.
«Tem sido um processo de amadurecimento nestes 10 anos que tocamos juntos. Fomo-nos conhecendo musicalmente e também como amigos. Fomos construindo as nossas sonoridades criando o universo plastica», descreve Miguel Fonseca, a voz da banda.
Com um universo bastante real, os Plástica vivem em harmonia, sem grandes euforias e com os pés bem assentes na terra. Uma banda que teve a sua evolução natural. Por isso, sem receios, o colectivo entrou em estúdio e produziu este disco sozinho. «Tem uma produção crua e directa que mostra talvez o que os Plastica são e conseguem fazer ao vivo. As ideias para composições surgem sempre vindas de jam-sessions que gostamos imenso de fazer e não dispensamos, também por vezes levamos ideias de casa que depois trabalhamos todos em conjunto ».

Consciência Social

Dessas ideias nasceu uma sátira social, ‘Free Love’, uma das faixas do album onde se nota uma segurança e uma qualidade nas composições. Um abono de família a levar a banda a uma critica social, sem medos mas sem cair em populismos, ironizando ou falando a sério do seu púlpito. « ‘Free Love’ fala da lixeira contemporânea que nos rodeia e nos afecta a todos inconscientemente, seja nos media, seja nos bens que consumimos, seja no estilo de vida que as pessoas se conformam a viver. Os direitos humanos infelizmente não se aplicam a todos. Fala-se de solidão, basicamente. Pois vivemos rodeados de pessoas e a solidão é o prato do dia para muita gente… é irónico mas é real!», explica o vocalista.

Palcos Dificeis
A meia galocha já o colectivo meteu o pé em muitos palcos partilhando-os com nomes como os Sonic Youth, Smashing Pumpkins ou The White Stripes, mas nos tempos actuais, tal como eles, muitas bandas nacionais andam arredadas desses palcos. Uma realidade que os Plástica consideram cada vez mais frequente. «O facto de bandas como nós não serem incluídas nos festivais grandes deve-se ao facto dos próprios festivais fecharem cada vez mais as portas a bandas portuguesas. Já para não falar nas rádios e nos media em geral, que teimam em funcionar com playlists dos velhos êxitos».
Os Plástica trazem, assim, na bagagem motivos e obra mais que suficientes para deambular nos palcos nacionais, para surpreender quem pouco os conhece e agradar uma legião que também já faz parte do ‘Universo Plástica’.

ENTREVISTA UNCUT

»‘Lovers’ é o vosso mais recente trabalho, acham-no o melhor disco que já fizeram?
Miguel Fonseca (vocalista) | Creio que o nosso melhor disco será sempre o próximo. Tem sido um processo de amadurecimento nestes 10 anos que já tocamos juntos. Fomo-nos conhecendo musicalmente e também como amigos, fomos construído as nossas sonoridades criando o universo dos Plastica. Tocamos pelo prazer que nos dá fazer música e acho que ‘Lovers’ reflecte isso mesmo. É o nosso disco mais maduro, nota-se isso para quem conhece a nossa discografia anterior. Desse ponto de vista é o melhor trabalho que fizemos até á data, sim.

»Foram vocês que produziram ‘Lovers’. Como foi essa experiência e todo o ambiente em estúdio?
Miguel Fonseca | Este registo teve um processo diferente dos outros que incluíram uma pré-produção antes de entrarmos em estúdio para gravar. Neste isso não aconteceu, levámos apenas para o estúdio as ideias que tínhamos feito na sala de ensaios sem nos preocuparmos com a produção. Foi uma opção nossa, para tentarmos uma sonoridade mais directa sem grandes manipulações sonoras. Conseguimos a melhor qualidade de som de todos os nossos registos até á data, estamos muito contentes com o resultado final nesse aspecto. Tem uma produção crua e directa que mostra talvez o que os Plástica são e conseguem fazer ao vivo. Basicamente foi esse o conceito da produção de ‘Lovers’. Temos sempre bom astral á nossa volta porque somos sempre pessoas bem dispostas. Por vezes, isso contagia quem está próximo de nós, o que se reflectiu também nos nossos convidados que participaram nas gravações de ‘Lovers’, como é o caso do grande mestre do blues americano Doug Macleod. Foi uma experiência magnífica para nós podermos trabalhar com ele ou mesmo com o Luís Simões dos Saturnia/Blasted Mechanism que já tinha participado também em ‘Kaleidoscope’. Tem sido o quinto elemento da banda no que diz respeito ás sonoridades mais psicadélicas dos Plástica. Ainda tivémos a participação de artistas espanhóis de renome como os Sidonie, uma banda Espanhola de topo e de sonoridades indie com influências idênticas ás nossas, com os quais travámos amizade durante as nossas actuações por terras Espanholas. Fizémos questão de os convidar para participarem no nosso novo disco, e de Nistal, nosso parceiro de editora em Espanha também.

»Como é o vosso processo de composição de músicas e que bandas vos influenciam?
Miguel Fonseca | As ideias para as composições surgem sempre vindas de jam-sessions que gostamos imenso de fazer e não dispensamos. Sempre que tocamos ou ensaiamos surgem apontamentos que servem de base para novos temas. Também por vezes levamos ideias de casa que depois trabalhamos todos em conjunto na sala de ensaios. Depois em estúdio refinamos o processo com arranjos e vão surgindo sempre ideias para apurar as canções.
As nossas influências são muito variadas. Ouvimos de tudo um pouco e cada elemento dos Plástica tem as suas referências e escola musical. Seria preciso uma grande lista para dizer todas.

»Que discos andam a ouvir ultimamente?
Miguel Fonseca | Temos estado a ouvir alguns discos dos Monster Magnet como por exemplo ‘Spine of God’, ’25 Tab’ e Powertrip’, o ‘Splinter’ dos Sneaker Pimps, ‘The Spirit of India’ de Ravi Shankar, ‘The Empyrean’ do John Frusciante (guitarrista dos Red Hot Chili Peppers), o ‘Ghosts’ dos Nine Inch Nails e ‘Absence Makes The Heart Grow Fungus’ de Omar Rodriguez Lopez.

»Que mensagem querem transmitir com a sátira social em ‘Free Love’?
Miguel Fonseca | O tema ‘Free Love’ fala da lixeira contemporânea que nos rodeia e que nos afecta a todos inconscientemente, seja nos média, seja nos bens que consumimos, seja no estilo de vida que as pessoas se conformam em viver. Os direitos humanos infelizmente não se aplicam a todos. Como diz parte da letra: «…Everyone talks about free love, but free love ain´t for all – some have to pay the call…». ‘Free Love’ fala da solidão, basicamente, pois vivemos rodeados de pessoas e a solidão é o prato do dia para muita gente. É irónico, mas real.

»Já tocaram em países como a Alemanha ou a Espanha. Poderá ‘Lovers’ abrir a porta a mais convites, nomeadamente para festivais internacionais?
Miguel Fonseca | Sim sem dúvida, agora que temos a nossa editora na Alemanha (AL!VE RECORDS), será mais uma porta que se abre para os Plástica. O ‘Kaleidoscope’ saiu em Novembro passado em terras Germânicas com distribuição para toda a Europa e em breve o ‘Lovers’ será lançado também. Devemos voltar aos palcos internacionais ainda este Verão.

»Já tocaram em Vilar de Mouros ao lado dos Sonic Youth, mas não têm sido vistos em muitos mais palcos do género. Acham-se excluídos em prol de bandas com temas mais mainstream?
Miguel Fonseca | Com o álbum anterior estivémos em alguns festivais estrangeiros e Portugueses incluindo o Festival Alive! No dia de Smashing Pumpkins e os The White Stripes. Nunca foi a nossa intenção ser mainstream, sempre fizémos música pelo prazer que nos dá fazê-la sem nos preocuparmos se é um produto comercial ou não. O facto de bandas como nós não serem incluídas nos festivais grandes deve-se ao facto dos próprios festivais fecharem cada vez mais as portas ás bandas Portuguesas. Esses sim têm um objectivo comercial de fazerem concorrência aos festivais estrangeiros. Quando ontem os palcos secundários estavam recheados de bandas Portuguesas, hoje isso não acontece pois já os palcos secundários só têm nomes estrangeiros a sobrelotar os cartazes.
Será isto o fim da música Portuguesa? Já que era nos festivais que as bandas tinham oportunidade de se mostrar a um número maior de pessoas. Já para não falar nas rádios e nos media que teimam em funcionar com as playlists dos velhos êxitos internacionais sem mostrar o que se faz de novo por cá...Como podem as bandas Portuguesas chegar sequer ao mainstream com politicas destas?

»Pensam editar outro trabalho brevemente ou estão sedentos por concertos ao vivo?
Miguel Fonseca | De momento ainda estamos a promover o novo disco, é cedo para pensar num próximo.... Temos andado por auditórios de todo o país com a ‘Lovers Tour’ a mostrar o nosso novo trabalho com um apanhado também numa espécie de best-of dos nossos trabalhos anteriores. Uma roupagem mais acústica feita de propósito para concertos de auditório e com uma componente visual criada para o efeito pelos nossos VJs da Droid-ID o que prefaz um espectáculo muito completo. Podem espreitar alguns vídeos da ‘Lovers Tour’ no nosso myspace e aproveitem para deixar um comentário: www.myspace.com/plasticamusic

in mundo universitario
http://www.mundouniversitario.pt/artigos.php?art=3028

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